sexta-feira, 25 de maio de 2012

"A Benção, Tia Amélia!"


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Trazido de "A Benção, Tia Amélia!"
de Laura Macedo, em 21 janeiro 2011, às 20:00
sítio: http://blogln.ning.com/profiles/blogs/a-bencao-tia-amelia .
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Amélia Brandão Néri (Tia Amélia)
*25/5/1897 Jaboatão, PE
+18/10/1983 Goiânia, GO
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Na Livraria Cultura de Fortaleza (CE) - onde estive recentemente –, passei horas de absoluto lazer/prazer entre discos e livros. Lançado em 2008 o livro “Vinicius de Moraes – Samba Falado (crônicas musicais)”, organizado por Miguel Jost, Sérgio Cohn e Simone Campos, foi uma das surpresas agradáveis deste meu “tour” cultural, já que na época do lançamento passei em brancas nuvens.
 A crônica “A Benção, Ti’Amélia” é uma das integrantes do referido livro e foi escrita por Vinicius de Moraes, em 26 de julho de 1953, a qual transcrevo abaixo. Em casa desses queridos Cattan – Ligia e Dreyfus – que eu colocaria facilmente entre os dez melhores anfitriões do Rio, pela simpatia e calor com que recebem, a sexta-feira 9 de julho adquiriu para mim uma significação toda especial, graças à presenças, entre tantos artistas e mulheres bonitas, de uma senhora a se aproximar dos 70, cuja severa beleza lembra os velhos medalhões imperiais: uma nobre cabeça emoldurada de prata e servida por uns olhos e um sorriso ainda moços e participantes.
Quero referir-me a Dona Amélia Brandão, ou melhor: Tia Amélia – e aqui peço respeitosamente a minha inscrição entre o rol de seus sobrinhos, pois já a considero mais tia minha que muitas que andam por aí. Deve-se a presença de Tia Amélia no Rio à inteligência e espírito público dessa encantadora Carmélia Alves que, numa tournée por Goiás, conheceu-a em Goiânia, onde une as prendas de figura da sociedade local às de emérita professora de piano.
Mas o que Tia Amélia é mesmo de fato é artista: artista com o largo instinto criador do boêmio, como todos os seus sobrinhos presentes naquela sexta-feira, entre os quais as figuras de Bené Nunes, Antônio Maria, Mello Moras, Bororó, Luiz Bonfá e Reinaldo Dias Leme.
Carmélia Alves tinha um avião a pegar, depois de muitos saraus em casa de Tia Amélia, e o que aconteceu foi o seguinte: Tia Amélia pegou o avião com ela.



Qual o truque de Tia Amélia, me perguntarão.
E eu vos direi, no entanto, que para ouvi-la eu percorreria facilmente um continente.
Como fiz em 1949, nos Estados Unidos, para ouvir o grande clarinetista negro George Lewis, que tocava por um dia em Nova Orleans.
Pois a verdade é que Tia Amélia é uma ressurreição de Chiquinha Gonzaga com bossas novas.
 Tia Amélia só tocava clássicos. Sim, esteve nos Estados Unidos, deu concertos, fez tudo o que manda o figurino.
Mas – disse-me ela – parecia-lhe que abrasileirava um pouco os clássicos que executava.
Seu Chopin não era necessariamente Chopin: era Chopin de Nazareth, ou melhor, Chopin Brandão. Só então percebeu que seu destino não era só de interpretar, mas o de criar música brasileira.
Pós-se a compor choros e valsas, que nunca foram postos em pauta e só agora foram batizados, pois ela os designa apenas pela cronologia de sua criação, ou por uma lembrança qualquer ligada a eles.
 Tia Amélia designa algumas de suas composições como “choros clássicos”.
De fato. Há no equilíbrio do complexo melódico, na sabedoria instintiva da harmonização, na unidade íntima das partes musicais, linhas bastante puras para que se as possa classificar como tal; isso, aliado à tristeza congênita, ao dengue malemolente, ao repicado brejeiro que dá ao chorinho a sua feição tão brasileira e assegura-lhe um caráter imortal dentro da nossa música semi-erudita e popular.
 Estou certo que os choros de Tia Amélia – que a Continental teve a feliz ideia, que é também um acontecimento musical, de por num LP – tocarão não só aqueles ligados à saudade de um tempo de que se fez música assim, como o da gente mais nova, em que as influências estrangeiras e as sofisticações do momento vão destruindo as características brasileiras mais tradicionais.
Pois os choros de Tia Amélia transmitem as coisas mais profundamente simples: as coisas do coração. Em 1980, aos 83 anos realizou a sua última gravação, pelo selo Marcus Pereira, com o LP "A Benção Tia Amélia", interpretando 12 composições inéditas, entre valsas e choros.
 01 - Choro Serenata (Tia Amélia)
 02 - Mosquita (Tia Amélia)
 03 - Choro Para Minha Filha (Tia Amélia)
 04 - Parabéns Pra Você Zé (Tia Amélia)
 05 - Maestríssimo Cipó (Tia Amélia)
 06 - Bilhete Para Arnaldo Rebello (Tia Amélia)
 07 - Conversando Com Minha Irmã (Tia Amélia)
 08 - Medalha Com G (Tia Amélia)
 09 - Choro Para Fernanda (Tia Amélia)
 10 - Maria Alice (Tia Amélia)
 11 - Penazziando (Tia Amélia)
 12 - Para Meus Netos Bisnetos e Tetraneta (Tia Amélia)

 Na ocasião, recebeu calorosa crítica do jornalista José Ramos Tinhorão, que sobre ela, escreveu: "Assim, quando se ouve o som atual de Tia Amélia, pode-se dizer que é toda a história do piano popular brasileiro que soa em sua interpretação".

Vale a pena conhecer mais sobre a vida e obra de Tia Amélia. Para os interessados deixo dois links: Memorial da Fama e Dicionário Cravo Albin.



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 Fontes:
Livro:
- "Vinicius de Moraes – Samba Falado (crônicas musicais)", de Miguel Jost, Sérgio Cohn e Simone Campos (Org.). – Rio de Janeiro: Ed. Beco do Azougue, 2008.
 Sites:
- Dicionário Cravo Albin; Loronix; Instituto Moreira Salles; Memorial da Fama. .

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Extraído de "Todos os dias para elas"
de Sabbahana Cavalcanti em 08/03/2012 

sítio: http://www.tvjaboatao.com.br/blog/62
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"Marcada pela conquista, Jaboatão dos Guararapes também é referência nesse espaço de mulheres que influenciaram o estado pernambucano em diversos aspectos, inclusive no âmbito cultural.
Maria Amélia Brandão Nery, mais conhecida como Amélia Brandão, é uma delas.
Nascida no município, a talentosa instrumentista e compositora, desde criança, sempre se interessou pela música e aos doze compôs a valsa Gratidão.
Casou-se com um rico fazendeiro, enfrentou sérios problemas financeiros – o que foi a causa do colapso do seu marido, que veio a falecer.
Teve que vender tudo o que tinha, incluindo seu bem mais precioso: o piano.
Mas sua carreira começou a alavancar depois de um recital de caridade. Trabalhou em diversas rádios, e emissoras.
Tia Amélia, nome dado carinhosamente por Roberto Carlos, foi a segunda mulher mais importante do Choro, antecedida apenas por Chiquinha Gonzaga.
Dentre os belos sambas, valsas e choros que compôs, destacam-se:
- Dois namorados
- Chora coração
- Obrigada Goiás
- Bordões ao luar (nome que foi escolhido pelo poeta Vinícius de Moraes)
- As valsas: Sorriso de Bueno, Cavalo marinho e Carmélia.
A musicista faleceu no estado de Goiás em 1983."
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